Central do Brasil

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Direção: Walter Salles Jr. – 1998 – Brasil-França – Drama – 105 min. – Roteiro: João Emanuel Carneiro, Walter Salles Jr. e Marcos Bernstein – Elenco: Fernanda Montenegro, Othon Bastos, Otávio Augusto, Marília Pêra.

Sinopse: Uma professora aposentada, que escreve cartas para analfabetos em uma estação de trens no Rio de Janeiro, encontra um menino, migrante nordestino, perdido no Rio depois da morte trágica da mãe. Juntos, eles viajam ao nordeste em busca do pai do menino.

Comentários: Será que o homem é mesmo produto do meio em que vive? Talvez não. Mas o meio torna o homem o lobo do próprio homem. Especialmente nos grandes centros urbanos, onde a completa falência da ética está decretada. Mas Walter Salles Júnior, em Central do Brasil, acredita na redenção do ser humano e aposta na sua transformação. É assim com a personagem Dora, vivida de forma brilhante por Fernanda Montenegro. Ela faz o jogo do salve-se quem puder e do topa tudo por dinheiro. Inclusive aproveitar-se da ingenuidade das pessoas simples que gravitam na estação de trens Central do Brasil ou vender um menino para comprar uma televisão. Mas ela tem sua chance de redimir-se ao fazer uma viagem inusitada com o menino Josué.

Central do Brasil expõe os problemas sociais do país ao mostrar um povo desamparado e miserável, o caos das grandes cidades, a violência urbana e o descaso de uma nação com suas crianças.

Em tempos de internet e comunicação via e-mail, a carta, grafada com lápis e papel, é o grande meio de comunicação na fita de Salles. Isso remete o espectador a um clima de passado. Há uma certa poesia e um toque de melancolia no ato de enviar e receber cartas. E nelas está boa parte do conteúdo dramático do filme. As grandes revelações da trama são esclarecidas por meio das cartas, gancho para um verdadeiro desfile de tipos humanos, caracterizados por frases ditas à câmera. Em cada rosto, em cada frase, há, subliminarmente, uma história potencial que instiga a imaginação do espectador.

Na estética de Salles, o que não é pobre e decadente, é pitoresco. Exatamente como este Brasil obscuro que ninguém quer ver.

Em princípio, a ação gira em torno da linha do trem e, depois, sobre as rodas de um ônibus e de um caminhão. O filme assume contornos de road movie e revela paisagens inóspitas do sertão nordestino.

Por fim, desnuda o fanatismo religioso na cidade de Bom Jesus, onde a narrativa desemboca. A fé cega, que caminha lado a lado com a miséria do nordeste, pode ser revista por meio da fala de Maria, a mãe do menino, logo no início do filme. “Jesus, você foi a pior coisa que me aconteceu”, diz ela, paradoxalmente, referindo-se ao pai de Josué.

Talvez seja uma pista de que o segredo da transformação do homem, possível em Central do Brasil, não esteja na fé inerte da religião, mas na fé do homem em si mesmo que o habilita a atitudes capazes de provocar mudanças.

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