As obras-primas de Oscar Wilde

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Oscar Wilde (Ediouro – 518 págs. – 2001 – Coletânea de textos do autor )

Sinopse: Oscar Wilde foi um escritor multimídia para a época. Assim, esta coletânea traz um romance, textos teatrais e contos. O destaque é “O Retrato de Dorian Gray”, com 214 págs: Um homem da aristocracia inglesa possui um retrato que envelhece, enquanto ele permanece jovem.

Comentários: Já imaginou se você tivesse um retrato, uma cópia de si mesmo, que absorvesse o seu envelhecimento e todas as bobagens que você fizesse na vida? No romance O Retrato de Dorian Gray o gênio de Wilde está na idéia de que o protagonista, Dorian Gray, possui um retrato que envelhece, enquanto ele permanece jovem. O retrato esconde não só sua decadência física, mas suas más ações, seus desvios de caráter, sua maldade. A uma certa altura da ação, Gray não quer mais ver o retrato, nem que ninguém o veja. Da mesma forma que o ser humano não quer se ver em profundidade, não quer olhar para as suas sombras; e nem que ninguém as veja. Ocasionalmente, Wilde imprime um ritmo de terror e suspense à narrativa. Outras vezes, ela se arrasta em longas e tediosas conversas de salão entre figuras da alta sociedade londrina da época. Sugere a banalidade deste convívio social. Mas há um destaque para as frases dúbias, provocadoras e polêmicas de Lord Henry, que deixa a marca da irreverência do autor em suas frases de efeito. Wilde foi um escritor multimídia para a época, mesmo sem os recursos da internet, do mundo digital e de todas as linguagens multimídia. Escreveu textos teatrais, contos, romances, poesia em prosa, além de suas famosas frases, citações e aforismos. Sua matéria preferida são os costumes da alta sociedade inglesa. Criou diversas personagens da nobreza e longos trechos de suas narrativas situam-se em eventos sociais de alta classe. Critica os costumes, joga com a sordidez contra os bons princípios e banaliza a maldade humana em seus personagens. Em diversos textos usa detalhes sombrios, clima de histórias de terror e mistério, crimes, sangue, suspense. Coloca-se nas personagens, especialmente nos céticos, com uma verve cínica e irônica. A beleza e a juventude também são matérias importantes, assim como o amor e a morte. Wilde é um gênio multimídia que faria miséria com as linguagens disponíveis nos dias de hoje.

Trechos: “Dorian mal girara o trinco, quando o retrato que lhe fizera Basil Hallward lhe atraiu o olhar. O moço recuou como que em sobressalto, depois entrou no quarto com um ar sumamente perplexo. Acabando de tirar a flor da lapela de seu casaco, hesitou visivelmente. Afinal, voltou atrás, chegou-se ao quadro e examinou-º Ao lusco-fusco mal clareado pelas réstias de luz que entravam pelas persianas, a fisionomia do retrato pareceu-lhe um tanto diferente. A expressão havia mudado, como se houvesse um laivo de crueldade nos lábios. Não havia dúvida de que era estranho.” / “Uma exclamação de horror escapou dos lábios do artista ao ver o esgar hediondo do rosto pintado na tela, cuja expressão à luz indecisa o enchia de aversão e repugnância. Senhor! O que se lhe apresentava ali era oi rosto de Dorian Gray!” / “O artista levantou a vela, examinou novamente a sua obra. A superfície do quadro não sofrera alterações. Parecia que a deturpação, o horror, vinham de dentro. Em virtude de alguma misteriosa aceleração da vida interior, a lepra do pecado consumia lentamente o retrato. A decomposição de um cadáver, em sua sepultura úmida, não seria mais espantosa.”

Por: Alexandre Gennari

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