A Malvada

Roteiros – Cultura – Filmoteca do Roteirista

Direção: Joseph L. Mankiewicz – 1950 – EUA – drama – 138 min. – Roteiro: Joseph L. MankiewiczElenco: Bette Davis, George Sanders, Celeste Holm

Sinopse: Uma estrela de teatro geniosa conhece uma atriz, que assiste a seus espetáculos noite após noite durante toda a temporada, e decide dar-lhe trabalho. Aos poucos ela perceberá que essa fã não é exatamente o que aparenta.

Comentários: Em 1981, a cantora Kim Carnes emplacou um hit chamado “Bette Davis Eyes” (Os olhos de Bette Davis). Mais do que uma homenagem, era uma espécie de louvação à uma das melhores atrizes de cinema de todos os tempos. Em A malvada, de Joseph Mankiewicz, mais do que protagonista do filme, Bette é o próprio filme. Uma interpretação de gala que marcou a carreira da atriz. Mas, ao contrário do que se pensa, a personagem de Bette não é tão malvada. As aparências enganam. Os olhos de Bette Davis não. A fita de Mankiewicz é considerada um dos maiores clássicos do século XX, venceu o Globo de Ouro em Berlim e o Prêmio Especial do júri em Cannes. Trata-se de uma reflexão sobre o universo do teatro: “O teatro. O teatro (…) quer saber o que é o teatro? Um circo de pulgas (…) há tanta baboseira neste salão de marfim verde que se chama teatro (…)” lamenta-se o personagem Bill, diretor teatral que vai a Holywood dirigir um filme. Em outro momento alguém diz: “Somos uma raça à parte, nós do teatro.” Sim, uma raça à parte que vai, aos poucos, perdendo espaço para os tentáculos poderosos de Holywood. Eles criarão uma outra raça à parte. Surge a luta épica entre teatro e cinema, como num jogo de cartas marcadas, todos parecem saber de antemão quem vai vencer. Na ação, o teatro já é visto como um mero trampolim para atrizes ambiciosas chegarem ao cinema. Mas em A Malvada, teatro e cinema não estão de lados opostos, são parceiros e mostram que o teatro é de fato (e sempre será) o pai das artes dramáticas. O filme tem clima de teatro, privilegia diálogos e interpretações como se o set fosse um grande palco iluminado. “Apertem os cintos, vai ser uma noite turbulenta!”, anuncia Margô, personagem de Bette Davis, no início de uma festa que se mostrará realmente turbulenta. E em outro momento: “Droga! Mandei minha caderneta de autógrafos para a lavanderia” diz ela, cínica, ao saber que uma estrela de Hollywood chegara ao evento. Teatro e cinema misturam-se também nos conflitos: Ambição, falsidade, inveja, o mundo das aparências. E a chegada da idade. Um drama para uma grande atriz, para uma estrela de teatro, para uma mulher. Para todos nós. Surge a questão da vaidade e do novo que chega (e sempre chegará) para substituir o velho. Uma vivência que todas as grandes (e belas) atrizes de cinema (e de teatro) viveram um dia. E as que estão no auge hoje, viverão, tendo ou não os grandes olhos azuis, holofotes misteriosos e hipnotizantes, de Bette Davis.

Roteiro: Assinado pelo próprio diretor, o roteiro de A Malvada aproxima-se do texto teatral, prima, sobretudo, pelos diálogos e conflitos. As falas são ótimas, atuais, com reflexões interessantes e tiradas inesquecíveis. O relato é um grande flashback e descobrimos que, no final, a história se repete. E se repetirá sempre que misturarmos ingredientes tão humanos quanto ambição, inveja, vaidade e arte. 

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2 respostas para A Malvada

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  2. Cristina Blanco disse:

    Sensacional !
    E sobre os conflitos listados acima (Ambição, falsidade, inveja, o mundo das aparências e a chegada da idade), a vida imita a arte. Vale para a vida profissional, a vida em sociedade de uma forma geral.
    Vale a pena rever … ou simplesmente ver.

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